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Psicóloga Naylane Santana

Não sei lidar com o imprevisível, e agora?

Uma breve reflexão sobre a vida.

 

Vários relógios antigos amontoados

Tem dias que desafiam a nossa capacidade de adaptação frente à imprevisibilidade dos acontecimentos.


Hoje acordei no horário de sempre, em meio a clarões de raios e barulhos de chuva e trovão. Coisa rara, na cidade tão quente e seca onde moro. Logo pensei que deveria me preparar para possíveis imprevistos, sair mais cedo de casa para a rotina de todas as manhãs.


Assim o fiz. Fiz como pude.


Tomei meu banho e meu café o mais rápido que consegui e saí antes do comum, conforme planejado.

Seguiria meu caminho através de aplicativo de corrida. Logo na procura por um motorista que pudesse me levar ao meu destino, deparei-me com o primeiro imprevisto.

De fato, saí mais cedo. Contudo, não o suficiente: 50 minutos de espera, até encontrar alguém que finalmente aceitou o chamado.


Já no carro, sabia que certamente enfrentaria engarrafamento, porque é como a cidade funciona quando chove. Não foi diferente. Logo na rua de casa a fila de carros era grande. Quando achei que, embora já atrasada, possuía ainda ao menos algum controle sobre a situação, a rota tomada resolveu também pregar uma peça em mim.

Caímos em um engarrafamento ainda pior, motorista e eu. 1 hora e 30 minutos para percorrer 700 metros de distância.


O calor dentro do veículo parado, a bateria do celular em menos de 10%. Vi-me sem saber o que fazer. Nunca tinha passado por isso. Nem mesmo quando morei em uma capital. Ainda valia a pena insistir em chegar? Deveria desistir de ir e voltar para casa? A bateria do celular aguentaria até eu conseguir decidir? Eu suava de calor e estresse.


Foi quando percebi que não adiantava mais tentar pensar sozinha. Ali, desidratada e atrasada como nunca, no olho do furacão, eu já não conseguia mais raciocinar bem, para avaliar a situação e escolher o próximo passo.

Pedi ajuda. Liguei para quem poderia enxergar a situação de fora, ouvir a minha questão e me auxiliar a tomar o melhor direcionamento.


No fim das contas, fiz alguns acordos com quem me esperava, voltei para casa, tomei mais um banho e sentei para escrever, porque me urgia.

Foi inusitadamente inevitável correlacionar esse evento tão aparentemente banal com o processo psicoterapêutico. Neste ponto da leitura você deve estar se perguntando "que relação uma coisa poderia ter com a outra?"


Bom, em tantos momentos de nossa vida a gente se encontra sem repertório para enfrentar determinadas situações... A gente até imagina estar suficientemente preparado para o que vier, mas a vida em sua imprevisibilidade incansável nos coloca em suspensão de novo e de novo; tira o nosso chão e nos faz sentir uma queda próxima em algum buraco escuro...


Foi bem assim também quando perdi um ente querido. Ou quando precisei sair de um emprego e buscar outro. Ou ainda quando não passei em um teste pro qual estava confiante do resultado... Tantos e tantos pontos de tensão e imprevisibilidade. Uns pequenos, outros gigantescos.


O que pode nos amparar então?


Talvez saber que não precisamos passar por esses momentos sozinhos, embora às vezes a solidão pareça o único caminho. Talvez perceber que alguém vendo de fora pode ajudar a acender a lâmpada da criatividade, para que tracemos estratégias que nos permitam delinear novas rotas, enxergar saídas, construir novos repertórios de aprendizagem. Nem sempre é fácil, mas é possível.


É este também um dos muitos lugares da psicoterapia. Lembremos de que, na estrada da vida, a gente vai se sentir preso em muitas curvas do tempo.

Mas em cada uma delas nós ainda podemos ter alguém para contar.


Você não precisa enfrentar tudo sozinho(a).




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